Segundona



A semana está começando novinha em folha, pra gente fazer o que gosta o que sonha o que deseja... Deixo aqui um belíssimo texto de Cecília Meireles para cada um descobrir o seu próprio caminho da felicidade...

A ARTE DE SER FELIZ
     Houve um tempo em que minha janela se abria sobre uma cidade que parecia feita de giz. Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.
     Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia quase morto. Todas as manhãs vinha um pobre homem com um balde, em silêncio, ia atirando com a mão as gotas de água sobre as plantas. Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse. E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e o meu coração ficava completamente feliz. Às vezes, abro a janela e encontro o jasmineiro em flor. Outras vezes, encontro nuvens espessas. Avisto crianças que vão para a escola. Pardais que pulam pelo mundo. Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais. Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar. Marimbondos que sempre me parecem personagem de Lope de Vega. Às vezes, um galo canta. Às vezes, um avião passa. Tudo está certo no seu lugar, cumprindo o seu destino. E eu me sinto completamente feliz.
     Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que estas coisas não existem, e outros que só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar para vê-las assim.

Cecília Meireles

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