Sinceridade


“As pessoas exigem uma sinceridade que não estão prontas para receber e sinceramente, não sei se algum dia estarão...” (Grace Kelly)

Desde cedo à vida começou a me mostrar que sinceridade não é uma coisa bonita. Mesmo assim, eu venho resistindo a essa idéia e, sem querer ser redundante (mas já sendo), a verdade é que, muitas vezes, a verdade é mesmo feia.

Na minha adolescência teve uma moda de “Caderno de Perguntas”, que circulava por todo o colégio. A brincadeira funcionava assim: cada um respondia a todas as perguntas feitas pelo dono do caderno, e depois passava adiante.

As perguntas variavam entre bobas e idiotas: “Qual a sua cor preferida? Quem você levaria para uma ilha deserta? Quais suas qualidades e defeitos?” e por aí vai… Um dia, um caderno desses veio parar na minha mão. Comecei a responder… até que me deparei com uma pergunta um tanto quanto complexa: “Com quantos anos você deu o seu primeiro beijo?”

Bom, eu tinha 14 anos e nunca havia sido beijada. Olhei para as respostas dos outros, e o mais atrasado tinha beijado pela primeira vez aos 12 anos, mas isso não foi suficiente para me intimidar. Respondi sem pestanejar: “Ainda não beijei na boca.”

O caderno continuou circulando pelo colégio e, no dia seguinte, eu assistia à aula quando um grupo de alunos de outras turmas se amontoava do lado de fora da janela da minha sala. Eles apontavam lá pra dentro e riam. Aquela movimentação toda dispersou a aula e logo todos  fomos tomados por uma enorme curiosidade. A professora parou a aula, abriu a janela e perguntou a um dos meninos o que estava acontecendo…

O garoto respondeu com outra pergunta, às gargalhadas, apontando pra mim: “Professora, aquela ali que é a Daniele?”. Ela, ainda confusa, fez que sim com a cabeça, e o grupo começou a gritar, em coro: “BV, BV, BV, BV…” (pra quem não sabe B.V. é abreviação para “Boca Virgem”.) Pois é… a “coisa” que causou aquele reboliço todo, era eu. E tudo isso por causa de um beijo… um beijo que eu nunca havia dado.

A professora fechou a janela e tentou retomar a aula, mas aí já era tarde, porque o “vuco vuco” agora era dentro da sala. “Dani, isso é verdade?”, “Meu Deus, você nunca beijou na boca mesmo? Mas, por que, menina?”

Finalmente conseguiram me intimidar. Naquele momento eu era o próprio “ET”, que acabara de ser descoberto infiltrado entre os seres humanos!!! :D 

Episódios parecidos com esse eram freqüentes, por razões diferentes, mas todos provocados pelo meu excesso de sinceridade, sempre.

A primeira vez que eu me lembro de ter achado a sinceridade feia foi quando ganhei um monte de roupas de presente de aniversário de uma amiga rica da minha avó, da qual eu esperava ganhar o melhor brinquedo, considerando seu poder aquisitivo. Eu rasguei a embalagem ávida e quando vi o que era, falei instantaneamente: “poxa, mas roupa não é presente!”

Minha mãe, envergonhadíssima, me repreendeu e me fez agradecer o presente. “Mas, mãe, eu não gostei!”, eu insisti. Só me lembro da tia dizendo: “Não tem problema, criança é assim mesmo!”.

Depois minha mãe me explicou que não é sempre que podemos dizer o que estamos pensando ou sentindo, porque isso pode desencadear numa série de problemas e pode, inclusive, magoar as pessoas, mas parece que eu não aprendi muito bem, até hoje… e comprovei isso nessa última sexta-feira...

Escrevi uma postagem falando sobre acontecimentos que aconteceram no meio do ano passado, me referindo à famosa condição que todos já devem ter passado que quando estamos em um relacionamento sempre tem alguém rondando o terreno e quando estamos sozinhos todos desaparecem como um passe de mágica... Não é assim que acontece mesmo?  É engraçado, não poder expor esse fato, incluindo a parte em que recuso o convite do fulaninho porque o outro lado envolvido que não sabia da história ficou com raiva, ciúme ou sei lá o que. Essa não é a primeira vez que meus textos causam esse tipo de reação, começo a achar que as pessoas preferem viver em um ambiente de omissões, aquele dito popular se encaixa aqui perfeitamente: “o que os olhos não vêem o coração não sente.”

Costumo dizer inúmeras vezes que o que me difere do resto é que falo o que penso, não satisfeita ainda escrevo para todos poderem ler. Minha opinião encontra-se sempre documentada, digo aquilo que muitos gostariam de dizer e não tem coragem para tal... Talvez o que aconteça comigo é que não consigo filtrar nenhuma vírgula que sai do meu cérebro até chegar a minha boca nesse caso a ponta dos meus dedos e deixo passar tudo que penso. Acho que meu filtro responsável por pensar antes de falar entra em constante curto e depois haja paciência para agüentar as conseqüências. Atualmente, se fosse responder um caderno de perguntas quando chegasse àquela parte de “Qual é o seu maior defeito?”, eu responderia: “Cuidado, eu sou sincera!”

1 comentários:

Thattee disse...

Nossa Dani vc além de verdadeira esta corretissima.

No post anterior sobre condições momentanias...eu assino em baixo.

O ser humano é estranho, além de não gostar da verdade entre "" não gosta que outrso falem. Digo entre "" pois todos adoram apontar defeitos ou soluções de seus pontos de vista, porem se vc vier com alguma objeção demonstrando a sua verdade, sua realidade, pronto é o fim.
A verdade só serve para alguns enquanto os enaltecem, caso contrário não ha verdade.

Sou parecisa com vc neste ponto, acredito que não tenho nenhum filtro e digo que meus pensamentos estão muito proximos da minha boca, então não tem como não falar o que sinto.
Ja sofri e sofro retaliações de diversas pessoas, mas aprendi que minha conciencia pessada incomoda mais do que 100 pessoas. Então que a verdade seja dita, doa a quem doer rsrsrs.

Mil bjos
*adoro mesmo seus textos.
http://ojeitothatteedeser.blogspot.com/

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