O mito do eterno retorno



Outro dia uma amiga me telefonou; estava se descambando para uma cidadezinha qualquer no meio de lugar nenhum no interior, com a firme intenção de procurar um ex-namorado com quem teve um rápido e intenso caso amoroso, uns bilhões de anos atrás. E começamos logo a imaginar como seria esse encontro. Ele se lembraria dela? Afinal, depois de tanto tempo tudo pode acontecer, inclusive ter esquecido ela. Mas digamos que se lembrasse, e aí marcassem para tomar um café. Como seria esse encontro?

É claro que ela tem suas expectativas, o que é mais do que natural. Mulheres, mesmo passado muitos anos, podem estar em boa forma física e ela estava. Como são vaidosas, pintam os cabelos, dão uma puxadinha na cara, fazem ginástica, ela não precisava ter nenhuma preocupação de ser uma decepção, quando ele a visse. Mas e ele?

Com os homens, quando nos referimos a tempo é tudo muito imprevisível. Dependendo de como a vida o tratou, poderia estar com os cabelos brancos, talvez tivesse deixado crescer uma barba, e até com uma barriga, o que seria dramático. E sobre o que conversariam?

Sobre o que aconteceu nas suas vidas durante esse tempo, é claro; quantas vezes cada um deles se casou, quantos filhos tiveram, talvez mostrassem fotos dos netos. Mas do passado comum, dificilmente. Como falar de sentimentos que existiram num tempo remoto e que não existem mais, como lembrar do quanto se amaram, dos planos que chegaram a fazer, e nada aconteceu? Difíceis, esses encontros. Alegres não são; também não chegam a ser tristes e trágicos; não dá para ficar amigo, nem para a paixão voltar.

Continuamos falando, e até a pensar na roupa que ela usaria; de tanto falar, ela acabou descobrindo que o que esperava é que ele dissesse que nunca a esqueceu, que foi a mulher da vida dele: mulher adora um romance. Mas será que é isso mesmo que ela quer? Não, no fundo não é.

Ponderamos que dificilmente isso aconteceria; ia ser uma conversa meio banal, meio torta, no final se despediriam sem alegria nem tristeza, pois ele tinha que voltar para casa, onde a mulher o esperava. E ela acabou percebendo que queria mesmo era que o tempo voltasse, que ela fosse a mulher que foi, ele o homem que foi, e que pudessem sentir um pelo outro o que havia sentido há tempos atrás. Por alguns momentos ela teve a ilusão de que, se o visse, ia se sentir como na época em que se amaram; só que o tempo é cruel, e isso não aconteceria.

Quando nossa conversa terminou, ela já havia decidido não procurá-lo; o que passou passou, e muito melhor seria deixar o passado para trás, quieto, porque com o passado não se deve brincar. E pensar no futuro, ou melhor, ainda, nem pensar; apenas deixar que ele aconteça.

2 comentários:

Adriana Alencar disse...

Ah, que pena, eu gostaria de ouvir um final feliz para essa história... Certa vez li que nunca devemos subestimar quem conhecemos na juventude, porque as pessoas mudam muito e, algumas vezes, para bem melhor!
Beijo
Adri

Driele disse...

MAS SERIA LEGAL SE ELES SE ENCONTRASSEM VIVESSEM UM GRANDE ROMANCE ;D
MAS PASSADO TEM MESMO Q FICAR ONDE ESTA
É PRA FRENTE Q SE ANDA

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